Acabei de lançar a última planta no banco de espécies de plantas invasoras no território brasileiro do Arquiflora. Ao todo foram compiladas 224 espécies a partir de listas de 3 entidades que estudam o assunto.
Plantas consideradas invasoras são espécies que, uma vez introduzidas em um ambiente natural diferente do seu próprio, interferem nos processos ecológicos do novo local, alterando a regeneração natural da flora, substituindo as espécies de plantas nativas, interferindo na disponibilidade de nutrientes para a fauna, modificando as condições do solo e o equilíbrio hídrico, promovendo, por fim, a perda da biodiversidade animal e vegetal do ecossistema invadido.
De acordo com a resolução nº 7 da Comissão Nacional da Biodiversidade, espécies exóticas invasoras estão entre as principais causas diretas de perda da biodiversidade e extinção de espécies nativas e, segundo o Instituto Horus de desenvolvimento e conservação ambiental, praticamente 70% das plantas listadas como invasoras no Brasil, foram introduzidas com a finalidade ornamental. Esse fato torna muito relevante a correta atuação do profissional paisagista na especificação das espécie de planta em seus projetos.
O Brasil tem diversas metas nacionais de preservação da biodiversidade para 2020 entre elas, prevenção, contenção e controle de espécies exóticas invasoras. Pensando na contribuição do paisagismo para o tema, criei o banco de dados Plantas invasoras no Arquiflora e nele compilei informações importantes sobre as espécies consideradas invasoras por 3 entidades importantes no estudo do assunto. Além das espécies da base de dados nacional de exóticas invasoras do Instituto Horus, acrescentei ao banco a lista de espécies vegetais exóticas invasoras no município do Rio de Janeiro da Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (SMAC) e as espécies indicadas no Guia de plantas não desejáveis na restauração florestal da Agroicone.
O banco Plantas invasoras do Arquiflora pode ser acessado através do menu superior do site. Para interagir com as informações inseridas no banco, pode-se usar os filtros laterais (no desktop) ou no final da página (em dispositivos móveis). Assim ao escolher, por exemplo, Forma de vida e logo após Árvore, o banco retorna uma lista de árvores que são consideradas invasoras.
Apresento abaixo alguns resultados obtidos a partir da aplicação dos filtros no banco. Cada resultado corresponde a uma lista de plantas e você pode acessá-la clicando no link em verde na respectiva linha.
Contribuições
Esse item se refere à contribuição (em quantidade de espécies) de cada uma das listas de espécies consideradas invasoras pelas 3 entidades estudadas para montar o banco.
- A base do Instituto Horus contribuiu com 193 espécies: Plantas consideradas invasoras pelo Instituto Horus (2019)
- A lista da SMAC contribuiu com 52 espécies: Plantas consideradas invasoras pela SMAC RJ (2014)
- O Guia da Agroicones contribuiu com 47 espécies: Guia de plantas não desejáveis na restauração florestal da Agroicone (2018)
Ocorrência nas listas
Esse item se refere ao consenso entre as entidades na consideração de uma planta como invasora. Das 224 espécies inseridas no banco:
- 8 aparecem nas 3 listas: Espécies que constam nas listas das 3 entidades
- 52 constam em pelo menos 2 listas: Espécies que constam nas listas de 2 entidades
- 134 constam apenas na lista do Instituto Horus: Espécies que só constam na lista do Horus
- 18 constam apenas na lista da SMAC: Espécies que só constam na lista da SMAC
- 12 constam apenas na lista da Agroicone: Espécies que só constam na lista da Agroicone
Famílias
Refere-se a classificação das espécies em famílias. Das 224 espécies inseridas no banco:
- 39 são da família das Poaceae.
- 28 são da família das Fabaceae.
- 10 são da família das Arecaceae.
- 8 são da família das Asparagaceae
- As famílias Convolvulaceae, Pinaceae e Rosaceae contribuem cada uma com 7 espécies.
- As famílias Asteraceae e Myrtaceae contribuem cada uma com 6 espécies.
- As famílias Apocynaceae, Araceae, Euphorbiaceae e Moraceae contribuem cada uma com 5 espécies.
- As famílias Acanthaceae, Lauraceae, Malvaceae e Oleaceae contribuem cada uma com 4 espécies.
- As famílias Araliaceae, Commelinaceae, Crassulaceae, Meliaceae, Musaceae, Rutaceae e Zingiberaceae contribuem cada uma com 3 espécies.
- As famílias Apiaceae, Bignoniaceae, Cactaceae, Cucurbitaceae, Hypoxidaceae, Iridaceae, Proteaceae e Thelypteridaceae contribuem cada uma com 2 espécies.
- E por fim, as famílias Agavaceae, Aizoaceae, Amaranthaceae, Anacardiaceae, Balsaminaceae, Boraginaceae, Brassicaceae, Campanulaceae, Caprifoliaceae, Caryophyllaceae, Casuarinaceae, Combretaceae, Cupressaceae, Cyperaceae, Davalliaceae, Dennstaedtiaceae, Hydrocharitaceae, Magnoliaceae, Menyanthaceae, Orchidaceae, Pittosporaceae, Polygonaceae, Pteridaceae, Rhamnaceae, Rubiaceae, Salicaceae, Sapotaceae, Selaginellaceae, Solanaceae, Sterculiaceae , Typhaceae, Urticaceae e Woodsiaceae contribuem cada uma com 1 espécie.
Forma de vida
Trata da classificação quanto a forma de vida das espécies. Um espécie pode ser classificada em mais de uma forma de vida.
- 70 espécies são consideradas Árvores
- 66 espécies são consideradas Herbáceas
- 36 espécies são consideradas Arbustos
- 24 espécies são consideradas Gramíneas
- 21 espécies são consideradas Trepadeiras
- 10 espécies são consideradas Palmeiras
- 6 espécies são consideradas Pteridófitas
- 2 espécies são consideradas Bromélias
- 2 espécies são consideradas Plantas aquáticas
- e 1 espécie é considerada Suculenta
Ambientes preferenciais de invasão
Refere-se aos ambientes naturais ou não, mais suscetíveis a invasão das espécies de plantas estudadas. Uma espécie pode ter preferência por invadir mais de um tipo de ambiente. Apenas a base de dados do Instituto Horus classifica as espécies quanto aos ambientes preferenciais de invasão.
- O ambiente Área degradada é preferido por 128 espécies.
- O ambiente Floresta é preferido por 63 espécies.
- O ambiente Floresta ciliar é preferido por 49 espécies.
- O ambiente Área úmida é preferido por 47 espécies
- O ambiente Campos é preferido por 37 espécies
- O ambiente Vegetação costeira é preferido por 32 espécies
- O ambiente Praia é preferido por 3 espécies
- O ambiente Costeiro é preferido por 3 espécies
- O ambiente Costão rochoso é preferido por 3 espécies
- O ambiente Água doce é preferido por 3 espécies
- O ambiente Plantio florestal com espécies exóticas é preferido por 2 espécies
- O ambiente Lago / Lagoa é preferido por 2 espécies
- O ambiente Reservatório de água doce é preferido por 2 espécies
- O ambiente Áreas rupestres é preferido por 1 espécie
- O ambiente Beira de estradas é preferido por 1 espécie
- O ambiente Mangue é preferido por 1 espécie
- O ambiente Plantio florestal com espécies nativas é preferido por 1 espécie
- O ambiente Restinga é preferido por 1 espécie
- O ambiente Savana é preferido por 1 espécie
- O ambiente Sub-bosque de formações florestais é preferido por 1 espécie
Impactos ecológicos
Impactos ecológicos são os danos causados pelas espécies ao se estabelecer nos ambientes invadidos. Apenas a base de dados do Instituto Horus classifica as espécies quanto aos impactos ecológicos da invasão. As espécies podem ter mais de um impacto ecológico.
- 161 espécies competem com as espécies nativas
- 48 espécies formam densos aglomerados
- 46 espécies dominam os ambientes invadidos
- 22 espécies alteram regeneração natural
- 19 espécies alteram a sucessão ecológica
- 19 espécies prejudicam o crescimento de espécies nativas
- 14 espécies promovem a perda de biodiversidade
- 14 espécies alteram o equilíbrio hídrico
- 14 espécies formam densas populações
- 14 espécies geram atividades alelopáticas prejudiciais às espécies nativas
- 10 espécies alteram a combustão da vegetação
- 9 espécies são tóxicas para animais
- 7 espécies diminuem recursos para a fauna
- 7 espécies alteram a disponibilidade de nutrientes
- 6 espécies alteram as condições do solo
- 6 espécies alteram a estrutura da vegetação
- 6 espécies crescem sobre espécies nativas
- 3 espécies afetam o ecossistema
- 3 espécies bloqueiam fluxos de cursos de água
- 3 espécies apresentam riscos de hibridação com espécies nativas
- 2 espécies alteram a resiliência
- 2 espécies diminuem a dispersão de sementes nativas
- 2 espécies formam barreiras por serem espinhentas
- 1 espécie causa reação alérgica à fauna
Vias de dispersão
Refere-se aos meios que ajudaram na dispersão e introdução das espécies invasoras nos ambientes naturais ou outros ambientes. Apenas a base de dados do Instituto Horus classifica as espécies quanto as vias de dispersão. Mais de uma via de dispersão pode ter contribuído com a atividade invasora da espécie.
- 136 espécies através do uso ornamental
- 104 espécies através do comércio de mudas
- 82 espécies através de troca de recursos naturais
- 45 espécies através da agricultura
- 32 espécies através da auto-propagação
- 25 espécies através de jardins botânicos/zoológicos
- 23 espécies através da translocação de maquinário
- 20 espécies através do uso florestal
- 16 espécies através de rodovias
- 10 espécies através de transporte de material ambiental
- 8 espécies através de transporte de animais domésticos
- 4 espécies através das sociedades de aclimatação
- 3 espécies através de correntes marinhas
- 1 espécie através da aquacultura
- 1 espécie através do aquarismo
- 1 espécie através da navegação
- 1 espécie através de rios e arroios
- 1 espécie através de transporte marítimo ou fluvial
Origem
Esse item se refere a classificação de origem da planta na plataforma do Flora Brasil 2020 do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As 224 espécies foram classificadas de acordo com esse item, sendo:
- 104 espécies como naturalizadas (espécies exóticas que conseguem se reproduzir naturalmente no ambiente em que foram introduzidas)
- 64 espécies não constam no Flora 2020
- 30 espécies são nativas do território brasileiro
- 23 espécies como cultivadas (espécies exóticas que, para se multiplicarem, precisam da intervenção humana)
- 3 espécies não ocorrem no Brasil
Presença em publicações
Algumas das 224 espécies de plantas invasoras que foram usadas para compor o banco Plantas invasoras do Arquiflora são indicadas em livros, sites e publicações para arborização urbana e paisagismo. Porém, o que foi exposto neste artigo, mostra a importância de ser abolir o uso dessas espécies. A ressalva seria apenas para as espécies que mesmo consideradas invasoras, são nativas do próprio território brasileiro. Ainda assim a aplicação dessas espécies em qualquer tipo de projeto paisagístico ou de arborização, para citar alguns exemplos, deve ser condicionada ao acompanhamento de profissionais capacitados na área ambiental. Na verdade, qualquer projeto que use uma espécie de planta fora do contexto do seu ambiente natural deve ter o acompanhamento desses profissionais, justamente para evitar que mais espécies causem danos à nossa flora e passem a constar nas listas nacionais de espécies de plantas invasoras no território brasileiro.
Abaixo o numero de espécies consideradas invasoras que estão presentes nas publicações estudadas:
- Entre os 3 volumes da série Árvores Brasileiras de Harri Lorenzi, 10 espécies são consideradas invasoras.
- Da página Frutas do mato do site Colecionando Frutas, 3 espécies são consideradas invasoras.
- Do livro Frutas no Brasil de Harri Lorenzi, 19 espécies são consideradas invasoras.
- Da lista de Nativas para o Paisagismo da publicação Exóticos Invasores, 3 espécies são consideradas invasoras.
- Do livro Palmeiras de Harri Lorrenzi, 1 espécie é considerada invasora.
- Da lista Plantas em Produção de Mudas da Fundação Parques e Jardins, 9 espécies são consideradas invasoras.
- Do livro Plantas para jardim no Brasil de Harri Lorenzi, 50 espécies são consideradas invasoras.
- Da lista Plantas para plantio da portaria N da Fundação Parques e Jardins, 19 espécies são consideradas invasoras.
- Da lista Plantas para Reflorestamento que consta no Plano Diretor de Arborização Urbana do Rio de Janeiro, 12 espécies são consideradas invasoras.
- Da lista Plantas para Restauração ecológica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 3 espécies são consideradas invasoras.
- Do livro Plantas tropicais de Juliana Vilaça, 35 espécies são consideradas invasoras.
Considerações finais
O melhor contraponto que pode ser feito ao uso de espécies invasoras, por mais bonitas e queridas que sejam, é lembrar que os nossos biomas oferecem espécies nativas fabulosas, que podem (e devem) ser adquiridas através de produtores responsáveis e usadas no paisagismo, arborização de calçadas e praças, e nos reflorestamentos brasileiros.
O uso das espécies nativas ajuda na manutenção da biodiversidade local, proporciona alimentação própria para a fauna nativa, inclusive para insetos que ajudam no controle das pragas e se adequam mais facilmente ao regime de chuvas da região, assim diminuindo o consumo de água potável para irrigação. Outro grande benefício é o cultural: a adoção dessas plantas no paisagismo, trás o contato das pessoas com a natureza original da região em que vivem e que muitas desconhecem.
Para estimular o Paisagismo com espécies nativas, estou montando também um banco de Plantas Nativas do território brasileiro. Esse banco oferece opções de consulta de espécies por estado, bioma (domínio fitogeográfico) e/ou por tipo de vegetação, justamente para ajudar na escolha das espécies mais apropriadas ao local do projeto. Outros filtros oferecem a opção de escolher as plantas por forma de vida, substrato, luz, cor das flores, e outros mais. Conheça o banco em Plantas Nativas.
A pesquisa de espécies invasoras continua e assim que eu tiver novidades eu atualizo o banco.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer imensamente à Silvia Ziller, do Instituto Horus, que autorizou o uso de informações da Base de dados nacional de espécies exóticas invasoras, para compor o banco de Plantas invasoras do Arquiflora.